sexta-feira, 21 de outubro de 2011

De dádivas enches o meu Outono !

http://c3.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/m71046374/6669773_8hvRg.jpegNão te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Amo-te como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças ao teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
Amo-te assim directamente sem problemas nem orgulho:
Assim
amo-te porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de te amar, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o Outono.


A dança de Pablo Neruda

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