Rui mediu as tensões, rastreou a diabetes, aparou o cabelo, escolheu roupa nova e participou num jantar convívio com cerca de 350 pessoas consideradas como excluídas da sociedade.
Rui Carvalho, 39 anos, é um dos aderentes ao Dia dos Cidadãos Sem-Abrigo da Área Metropolitana do Porto, promovido hoje pelo Governo Civil e pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no âmbito da iniciativa Porto de Abrigo, uma rede que reúne cerca de 40 instituições públicas e privadas.
A meio da tarde, foi dos primeiros a chegar a um pavilhão da universidade do Porto, onde decorre a iniciativa, mas o estômago ia ainda a dar horas.
Nada que estranhe, afinal. Ao longo de cinco anos e meio em que teve a lua por tecto, muitas vezes o estômago pediu-lhe o que não havia para comer. E ainda hoje, quando já tem um cubículo para viver, partilhado com uma companheira que conheceu enquanto sem-abrigo, vai enganando a fome com nada.
«Pagamos 200 euros de renda. O que nos sobra do Rendimento Social de Inserção (189 euros cada) não dá para comer todos os dias. Muitas vezes passo fome», garante.
Quando estava na rua, diz, «tirava à boca para a droga. Hoje, estou num programa de Metadona e só tiro à boca porque não dá mesmo para comprar alimentos para todo o mês».
Teresa Pires, 49 anos, tem uma história similar para contar. A diferença é que em sete anos de total exclusão e consumo obsessivo de drogas, numa dormiu ao relento porque teve sempre conseguiu descobrir uma ou outra casa abandonada que a abrigasse.
De momento, está a tirar um curso de informática no IEFP e sonha vir a ter um emprego.
«Coisa levezinha, a atender telefones ou coisa assim, porque a minha saúde não dá para mais», pede Teresa, depois passar pelo improvisado gabinete de enfermagem e de se dirigir à esteticista para cuidar da aparência do rosto e, dessa forma, aumentar um pouco sua autoestima.
Já na barbearia, Abílio Costa, um formando de cabeleireiro do IEFP apara o cabelo a outro sem abrigo, e lamenta que «estas coisas só aconteçam por alturas do Natal».
Isabel Santos, a governadora civil, garante, contudo, que não é isso que se pretende. «É uma iniciativa que gostaríamos de ver prolongada no tempo e o que pretendemos é partir daqui para abrir portas aos sem-abrigo que estejam abertos a um processo de inclusão».
Lusa/SOL
Uma experiência enriquecedora a todos os níveis !
Um Bom Natal a todos.
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